RICHARD HAMILTON | notas para projecto . notes for projects
1/31/2013
Enquanto fazíamos um projeto para uma torre habitacional em São Paulo, depois de termos apresentado uma fase inicial de conceito geral e volumetria, o cliente solicitou a apresentação de uma segunda fase onde deveríamos apresentar uma maior definição da organização dos espaços interiores.
A nossa proposta consistia em apresentar alguma flexibilidade em cada piso habitacional, o que tornava complexa a ideia de ter que concretizar a flexibilidade, quando esta se baseava na não construção. Cada piso tinha apenas uma habitação e queríamos que todos os pisos fossem diferentes, mas não tínhamos à partida os diferentes clientes com quem discutir os projetos.
Durante a pesquisa que realizava para o projeto deparei-me com uma colagem de Richard Hamilton com um título sugestivo “Just What Is It That Makes Today null Homes so Different so Appealling” de 1956. Apesar de datada a colagem refletia bem a pergunta que também nós fazíamos.
A ideia de começar do zero em cada projeto, compreender e questionar. Há sempre o desejo de fazer algo novo. E na obra de Hamilton há também essa relação com a Arquitectura. A sua obra coloca sempre a questão da abordagem espacial e sensorial, aliada a um conhecimento profundo dos espaços arquitetónicos que interagem com as suas obras.
Lembrei-me que tinha uma série de entrevistas publicadas como destacáveis pela Domus, entre as quais havia dois volumes dedicados a Hamilton, onde era entrevistado por Hans Ulrich Obrist. Tinha uma vaga ideia de que a entrevista abordava aspetos interessantes que de alguma forma poderiam ter alguma relação com o que fazíamos na altura.
Numa releitura mais aprofundada vi a sua proposta para para a exposição “ An Exhibit” (ICA, Londres, 1957). Pode dizer-se que é uma exposição sobre a exposição em si, onde ele desenvolve um sistema modular de painéis de acrílico de diferentes cores e transparências, que coloca diretamente no local, numa experiência total 3D, também como crítica ao planeamento bidimensional das plantas e alçados que resultam em experiências não sensoriais e não espaciais, tal como o observador os vê.
A ideia surge-lhe na sequência da exposição “Man, Machine and Motion”. Victor Pasmore ao convidar Hamilton para realizarem uma exposição conjunta disse-lhe que tinha gostado muito da exposição, mas não das fotografias. Mostrou-se mais interessado nas relações formais entre os planos. Não conseguia suportar a ideia da colocação de informação nesses planos.
Essa ideia de abstração foi apelativa para Hamilton que começou a desenvolver um sistema que lhe permitisse colocar esses planos onde quisesse, criando um espaço fotogénico. A simultaneidade de conceber uma organização espacial que provocava também uma organização sensorial era o que também nós procurávamos, mas numa ordem inversa. Queríamos um sistema base de alternância de simples planos opacos, translúcidos e transparentes que provocassem um estímulo sensorial que levasse a opções de organização distintas do espaço habitacional.
A experiência puramente espacial é bastante envolvente e poderosa. Lembro-me do Museu Judaico em Berlim de Libeskind, que visitei ainda sem os conteúdos da exposição. Através apenas das relações espaciais, tonalidades, texturas e luz criava-se um experiência igualmente rica.. Provavelmente transcende qualquer exposição porque se conecta com a experiência e conhecimento individual. Há uma aquisição de conhecimento por via emocional. Nunca cheguei a ver o museu com a exposição, mas disseram-me que era pior.
Queríamos essa mesma abstração, a relação intensa de sensações e de possibilidades. Toda a concretização fica aquém. No fundo a resposta à pergunta de Hamilton mantém-se sempre incerta, numa nova procura a cada projeto.
Imagens de cabeçalhoColagem"Just What Is It That Makes Today null Homes so Different so Appealling” de 1956
A nossa proposta consistia em apresentar alguma flexibilidade em cada piso habitacional, o que tornava complexa a ideia de ter que concretizar a flexibilidade, quando esta se baseava na não construção. Cada piso tinha apenas uma habitação e queríamos que todos os pisos fossem diferentes, mas não tínhamos à partida os diferentes clientes com quem discutir os projetos.
Durante a pesquisa que realizava para o projeto deparei-me com uma colagem de Richard Hamilton com um título sugestivo “Just What Is It That Makes Today null Homes so Different so Appealling” de 1956. Apesar de datada a colagem refletia bem a pergunta que também nós fazíamos.
A ideia de começar do zero em cada projeto, compreender e questionar. Há sempre o desejo de fazer algo novo. E na obra de Hamilton há também essa relação com a Arquitectura. A sua obra coloca sempre a questão da abordagem espacial e sensorial, aliada a um conhecimento profundo dos espaços arquitetónicos que interagem com as suas obras.
Lembrei-me que tinha uma série de entrevistas publicadas como destacáveis pela Domus, entre as quais havia dois volumes dedicados a Hamilton, onde era entrevistado por Hans Ulrich Obrist. Tinha uma vaga ideia de que a entrevista abordava aspetos interessantes que de alguma forma poderiam ter alguma relação com o que fazíamos na altura.
Numa releitura mais aprofundada vi a sua proposta para para a exposição “ An Exhibit” (ICA, Londres, 1957). Pode dizer-se que é uma exposição sobre a exposição em si, onde ele desenvolve um sistema modular de painéis de acrílico de diferentes cores e transparências, que coloca diretamente no local, numa experiência total 3D, também como crítica ao planeamento bidimensional das plantas e alçados que resultam em experiências não sensoriais e não espaciais, tal como o observador os vê.
A ideia surge-lhe na sequência da exposição “Man, Machine and Motion”. Victor Pasmore ao convidar Hamilton para realizarem uma exposição conjunta disse-lhe que tinha gostado muito da exposição, mas não das fotografias. Mostrou-se mais interessado nas relações formais entre os planos. Não conseguia suportar a ideia da colocação de informação nesses planos.
Essa ideia de abstração foi apelativa para Hamilton que começou a desenvolver um sistema que lhe permitisse colocar esses planos onde quisesse, criando um espaço fotogénico. A simultaneidade de conceber uma organização espacial que provocava também uma organização sensorial era o que também nós procurávamos, mas numa ordem inversa. Queríamos um sistema base de alternância de simples planos opacos, translúcidos e transparentes que provocassem um estímulo sensorial que levasse a opções de organização distintas do espaço habitacional.
A experiência puramente espacial é bastante envolvente e poderosa. Lembro-me do Museu Judaico em Berlim de Libeskind, que visitei ainda sem os conteúdos da exposição. Através apenas das relações espaciais, tonalidades, texturas e luz criava-se um experiência igualmente rica.. Provavelmente transcende qualquer exposição porque se conecta com a experiência e conhecimento individual. Há uma aquisição de conhecimento por via emocional. Nunca cheguei a ver o museu com a exposição, mas disseram-me que era pior.
Queríamos essa mesma abstração, a relação intensa de sensações e de possibilidades. Toda a concretização fica aquém. No fundo a resposta à pergunta de Hamilton mantém-se sempre incerta, numa nova procura a cada projeto.
Imagens de cabeçalhoColagem"Just What Is It That Makes Today null Homes so Different so Appealling” de 1956
Fotografia da exposição “ An Exhibit” (ICA, Londres, 1957)
© Richard Hamilton
© joel moniz 2013
© Richard Hamilton
© joel moniz 2013
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