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GNRATION

2/24/2013






















Ocupando uma parte significativa de um quarteirão no centro de Braga, em frente a uma das praças mais emblemáticas da cidade de Braga, o edifício da GNR, com três frentes de rua, é composto genericamente por dois edifícios com um máximo de 3 pisos de altura, dois pátios e um logradouro pavimentado. Apesar de ter uma frente pública consolidada e coerente, as fachadas dos pátios interiores sofrem variações que não têm em alguns casos relação entre pátios ou mesmo com a fachada do edifício. Para além disso existem pequenos acrescentos e remodelações que cortam com esta homogeneidade.

A sua fachada revela um carácter institucional de grande sobriedade e rigor de detalhe, nomeadamente a fachada da Praça Conde Agrolongo, mas o desenho de fachada da Avenida Visconde Nespereira é excessivamente secundarizada, enfatizando o efeito de rua corredor. Para isto contribui a colocação de janelas altas como guaritas, quando pela proporção da fachada poderia ser considerada como uma segunda fachada principal.

No interior, tal como no exterior, ocorrem situações diversas, desde espaços de grande requinte, com carpintaria trabalhadas e tectos abobadados de gesso, a ampliações e requalificações de fraca qualidade espacial e de materiais. Existem tectos a diferentes alturas bem como cotas de piso a alturas diferentes. Escadas improvisadas e paredes acrescentadas.

Para o novo programa que agora é proposto o paradigma da projecção da imagem pública do edifício tem que mudar. Passa a ser a face do projecto Braga Capital Europeia da Juventude 2012, que durante pelo menos 1 ano irá ter grande preponderância na cidade de Braga.

O edifício albergará um novo programa vocacionado para as indústrias criativas. Pretende-se cultivar uma cultura de partilha, de cruzamento de ideias e influências de várias áreas criativas e por esse motivo o programa é colocado no edifício de forma a provocar atravessamentos funcionais, provocar tensões e deslocações horizontais e verticais no edifício. Ao mesclar os grandes grupos funcionais e inverter a lógica do posicionamento usual do programa, não existe a estratificação por piso ou por bloco. Pode surgir um bar no último piso ao lado de gabinetes e uma sala de trabalho de grupo no piso 0 ao lado de uma galeria de arte.

O que se pretende é criar uma base de utilização a todas as equipas de trabalho e dotar o edifício de espaços de apoio a essas actividades. Por isso, possui salas de reuniões, espaços de trabalho conjunto, salão de eventos, lojas, gabinetes, ateliers, oficinas, espaço de impressões, bar, restaurante, mercado aberto, rádio e pequeno estúdio, recepção, espaços amplos para áreas técnicas e galerias comuns para apresentação pública constante do trabalho.

Pretende-se que a intervenção no antigo edifício da GNR congregue todo o conceito de dinamismo de Braga Capital Europeia da Juventude 2012. O projecto usa o conceito de ocupação como motivo. A ocupação pelo Homem e pela Natureza. Explora o limite entre uma estrutura existente abandonada, inacabada e um novo corpo invasor que se apodera do espaço. Um espaço em regeneração constante, mais do que um objecto final.

O edifício deve ser central para as indústrias criativas. No limite uma área do contrapoder, contra a regra, o limite, a disciplina. Simbolicamente contrapõem-se o seu uso anterior de GNR a um espaço que se situa nos seus antípodas, o GeNeRation. Para isso não pode ser mais uma peça indiferente do puzzle urbano. Tem que ter a capacidade de agitar, de criar controvérsia, de gritar alto. Num momento de mudança e comemoração do espírito da juventude, o edifício da GNR não pode permanecer invisível, como um observador calado sobre a praça adjacente, ao lado dos seus pares. Tem que saltar para a arena, ir para o palco e vestir lantejoulas.

Enquadrado num contexto limite orçamental apertado, o projecto aposta no reforço das potencialidades dos edifícios existente e elabora uma estratégia de desenho “infra-estrutural”. A definição de posicionamento de infra-estruturas para suporte das actividades. Reforça-se o conceito de ocupação em que as infra-estruturas constituem-se como um organismo autónomo que se espalha como uma hera, sem pretensão de se fundir com o edifício ou de se ocultar. Não se condiciona a ocupação e o tratamento dos revestimentos do edifício é levado ao mínimo, deixando para o ocupante essa possibilidade de criarem espaços diferentes, num ambiente de permanente criatividade.

A intervenção no espaço interior passa por analisar e valorizar as potencialidades do edifício existente, mas também na avaliação das suas principais debilidades. O novo ocupante trará consigo uma estratégia de ocupação própria de cada célula que lhe é destinada, com equipamentos próprios, cores, materiais e mobiliário. A não ser em alguns espaços comuns, circulações e áreas técnicas e infra-estruturas, não haverá uma homogeneidade de intervenção, porque não há definição de intervenção. Essa será feita pelo ocupante posterior. Atribuiremos apenas um código espacial através de materiais e cores que estabelecerá a fronteira imaterial da ocupação.

No exterior o edifício sofrerá dois tipos de intervenção. Uma será de acção directa sobre o edifício existente, com operações de recorte de fachada, nomeadamente nos vão de piso térreo que serão rasgados até ao pavimento, passando a considerar-se todas as fachadas do edifício como fachadas nobres, aumentando a relação de conjunto do edifício e não destes planos de fachada diferenciados.

No canto da fachada um corte mais abrupto sugere a ruptura da nova intervenção. Uma ferida aberta no edifício que expõe o seu interior e capta a atenção do observador para este ponto. Começa aqui o princípio de intervenção de um edifício que se apresenta com uma nova cara. É a metáfora de um edifício em desequilíbrio, que explora o limite, a aventura, o desconhecido e portanto em movimento constante, de maneira inconformada.

O segundo nível de intervenção sugere uma “invasão” do espaço do logradouro e pátios com uma amálgama de espécies vegetais e infra-estruturas, que se “agarram” às fachadas, reformulando a imagem do interior dos lotes, enfatizando este conceito de espaço semi-ocupado, que foi apropriado pelo tempo. O projecto funciona por camadas estratificadas. Suporta o projecto nessa relação temporal. Ou seja esta atitude nova e arrojada é alicerçada na história.

É criada uma estrutura metálica que se afasta da fachada para permitir a passagem de condutas por trás e suportar pela frente uma composição de vasos que suportam a estrutura vegetal. Pontualmente estes vasos são substituídos por áreas envidraçadas ou chapa translúcida, que evidenciam particularidades de alguns espaços interiores. Podem ser uma entrada, um prolongamento de eixo visual ou uma varanda que surge inusitadamente, sobre o pátio, como um púlpito.

A partir desta intervenção que se conforma ao molde que são os pátios, surge uma grande abertura para o espaço público, virada para a rua Avenida Visconde Nespereira. Esta grande abertura surge como um vácuo espacial que sugere o prolongamento do espaço público para o interior e vice-versa, num jogo da corda. Este vazio é uma peça fundamental na relação que se pretende estabelecer com o espaço urbano de Braga e por isso sugerimos a demolição do muro existente, criando uma solução alternativa com grande permeabilidade física e visual.


The intervention in the former building of the GNR (military police) brings together all the concept of dynamism of Braga European Youth Capital 2012. The project uses the concept of occupation as motif. The occupation by man and nature. It explores the boundary between an abandoned existing structure and a new invasor construction who takes over the space. A space in constant regeneration, rather than a final object.

The building should be central to the creative industries. It should be a building against the rule, the limit, the discipline. Symbolically it contrasts with his previous use of GNR to a space that lies in its antipodes, the "GeNeRation Lab". To accomplish that it should stop being a indifferent piece of the city puzzle. It must have the ability to stir, create controversy and scream loudly. In a time of change and celebrating the spirit of youth, the building of the GNR cannot remain invisible, as a silent observer on the adjacent square, alongside their peers. It has to jump into the arena, go on stage and wear sequins.

Outside there are two types of intervention. A direct action on the existing building, with clippings of the facades, including windows in the ground floor that will be ripped up to the pavement, thus considering all the facades of the building as noble facades.

In the corner of the facade a more abrupt cut suggests the break of the new development. An open wound that exposes the building and its interior captures the viewer's attention to this point. Here begins the first intervention of a building that presents a new face. It is the metaphor of a building in disequilibrium, which explores the limits of fear of adventure, the unknown and therefore in constant motion and nonconformist.

The second level of intervention suggests an "invasion" of space and backyard patios with a mixture of plant and infrastructure, which "grab" the facades, reshaping the image of the interior lots, emphasizing the concept of semi-occupied space that was appropriated over time. The project works by stratified layers, supporting the project in this temporal relationship, which acts as father of the new generation. This bold new attitude is rooted in history.

It is created a metal frame that moves away from the facade to allow the passage of pipes behind the front supports and a composition of vessels that support the plant structure. Occasionally these vessels are replaced by translucent glass areas or plates, which show some features of interior spaces. It can be an entrance, an extension of a visual axis or a balcony that appears unexpectedly, on the patio, as a pulpit.

From this intervention that conforms to the courtyards, there is a large opening to the public space, facing the street Avenida Visconde Nespereira. This grand opening comes as a vacuum space that suggests the extension of public space to the interior and vice versa, in a game of rope. This empty space is a key part in the relationship that will be established with the city of Braga, so we suggest the demolition of the existing wall, creating an alternative solution with great physical and visual permeability.


Imagens de cabeçalho
maquete do projeto, fotomontagem, imagem em fase de obra.
© arquivo do atelier carvalho araújo
© fotografias . hugo araújo


© joel moniz 2012

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