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DA MANSÃO À SUPER MANSÃO | from the mansion to the super mansion

6/18/2013

























No início de 2012 começámos a trabalhar em projetos para São Paulo, no Brasil. Dois desses projetos foram edifícios residenciais em altura que se sucederam num curto espaço de tempo, o que de certa forma contribuiu para de certa forma estabelecer uma “doutrina de intervenção” baseada na pesquisa que realizamos para o primeiro projeto.


Os edifícios eram estruturas grandes e complexas mas que não não assumiam tipologias que nos eram familiares na altura. Não se equiparavam a edifícios públicos, quarteirões, bandas ou blocos habitacionais isolados. A própria noção de torre não era de leitura evidente muito menos de arranha-céus, não só por uma questão de escala ou altura mas sobretudo porque este tipo de promoção imobiliária se fazia em lotes contíguos, o que na prática se traduzia em “embasamentos” de diferentes pisos para comércio e estacionamento, pontuados por volumes verticais, de implantação variada. 

Este somatório fazia conjuntos urbanos ou quarteirões.Os programas que os promotores impunham que fossem desenvolvidos dentro destes edifícios aproximavam-se de uma ideia, ainda que parcial, das unidades de habitação, embora não se encontre conceptualmente uma relação direta, pelo contrário há um desejo inconsciente de se afastar da conotação como esses modelos.Não são de qualquer forma modelos inspirados pelo pensamento da cidade moderna, apenas criam condições intrínsecas de relações sociais para dentro do modelo habitacional como alternativa à rede de programa da cidade, na oferta de equipamentos dentro do edifício nos padrões de média e alta habitação, aproveitando também o enquadramento legal que não considera em determinadas condições essas áreas sociais para a contabilização das áreas de construção.

É um edifício que quer ser torre mas não pode por causa dos constrangimentos técnico-legais, mais do que uma composição urbana pré-estabelecida. 

Temas e conceitos de trabalho.

Os dois projectos basearam-se com conceitos de composição distintos que de certa forma exprimem opções de programa e contexto diferentes. No entanto trabalhávamos em comum 3 grandes temas; Base, Corpo e Remate, nas suas relações morfológicas e programáticas como sub-elementos de composição de um conjunto mas também nas relações com o espaço urbano. 

O trabalho neste três temas advém por um lado das restrições legais que promovem este tipo de abordagem, mas são sobretudo o mote para pensarmos em temas mais alargados ao nível da cidade, da sua legibilidade, da sua continuidade, na sua adaptabilidade. 

Os tópicos aqui abordados não foram aplicados aos dois projectos de igual forma e em alguns casos remetem apenas para um dos projectos, no entanto servem para essa base de pensamento comum que tentámos estabelecer no desafio de desenvolver esta tipologia de projecto.

Escala e Proporção.

A associação mais imediata que fizemos foi com as primeiras experiências de edifício em altura nos Estados Unidos. Os antecedentes imediatos dos primeiros arranha-céus eram mansões senhoriais extrudidas aos limites da possibilidade da época. A aplicação do elevador, inicialmente apresentado como uma atração de feira num show de circo, impulsionou uma rápida mudança no paradigma da possibilidade de construção em altura, sem que o sector tivesse tempo de elaborar novos conceitos e um novo desenho.

Assim estes novos edifícios eram mega-mansões mas que mantinham o requinte, pormenor e dedicação que colocavam nas casas particulares.As relações sociais das estruturas de pisos invertem-se com o aparecimento do elevador. Os últimos pisos usualmente reservados aos criados e serventes, são agora os mais apetecidos. 

A competição de quem está mais no topo começa na malha urbana que se adensa e no remate do edifício repousa o seu estatuto social, da mansarda ao pináculo. O remate do edifício representa o encoroamento e a sua base o elemento multifuncional / social de relação directa com a cidade. Ambos contribuem de forma diferentes para o estatuto do edifício. O primeiro no plano simbólico e o segundo pela dinâmica cultural, social e comercial que possa oferecer. No meio uma trama indefinida que pode ter mais ou menos pisos.

“Pés assentes na terra”.

Era importante criar um limite do lote que expressasse a conotação de perenidade e estabilidade. A sensação de um embasamento “antigo”, com um jardim suspenso. A noção simultânea de intimidade, imponência, serenidade e importância. Uma caixa-forte preserva sempre algo valioso.

Fazíamos o aproveitamento dessa plataforma para incorporar usos de utilização comum, para espaços interiores de grande qualidade, distribuídos em terraços e pátios, sob o jardim suspenso. Para fora apenas algumas aberturas controladas, ou desníveis na plataforma para valorização do embasamento, melhoramento das vistas e relação direta com o espaço urbano.

“Condensação e Evaporação”.

A assunção da dicotomia de condensação versus evaporação em diferentes planos de fachada. Uma que se abre e outra que se fecha. Uma que se controla e outra que se liberta. A oposição a esta fachada etérea é uma massa onde são propostos os programas mais fixos de serviços, os acessos verticais e as áreas técnicas. São áreas contidas e controladas.

Como o quadro “Pure Painting” de Theo van Doesburg, o equilíbrio dos opostos, a aparente forma inacabada. Dá indício de regras para mudar a composição mantendo a simetria. 

No interior expõe-se esta filosofia. O volume que se condensa na superfície da fachada de trás com os programas de serviços e se liberta na frente e laterais, “amorfo” entre lâminas, aberto para as “paisagens”. O apartamento que se molda à vida. Pressupõe-se um cliente exigente. Estabelecem-se apenas regras básicas que permitem libertar as linhas de vidro. A abertura para a paisagem assente numa forma difusa entre lâminas, para que cada piso possa ser diferente, cada sala, cada recanto.

A Árvore.

A Árvore é uma metáfora de uma intenção de enraizamento no lugar, ao imputar a uma construção a noção de que pode “crescer “e amadurecer, ao mesmo tempo que que se está a reabilitar todo o tecido urbano envolvente. Lançámos a ideia como semente, um conceito forte que nos acompanha ao longo de todo o projeto, que nos permite manter o rumo dentro das alterações normais que existem em todos os processos.

Trabalhámos com o contraste entre uma base sólida e robusta (como um vaso), provavelmente colorido e o corpo do edifício mimetizando uma ideia de ramificações, com variações ténues de cor e detalhe.

Nos edifícios habitacionais agrada-nos a ideia de construirmos algo com longevidade, bem integradas, que promovam relações sociais internas e externas, da casa ao bairro, daí procurarmos abordagens que nos aproximem de um fator de “estabilidade”.

O edifício não é uma “ilha”.

O edifício não é uma “ilha”, deve reagir e assimilar os fatores extrínsecos, porque estabelece relações de proximidade com o espaço público e outros espaços / edifícios privados tão sensíveis e importantes como as relações intrínsecas.

Na composição devem sempre estar presentes as preocupações com as relações urbanas, na escala, continuidade e transição. O volume da base da fachada principal estabelece uma relação de escala de proximidade, uma escala mais humana. A distribuição dos volumes na fachada principal estabelece uma linha de transição entre as construções adjacentes mais altas com as mais baixas. A relação público / privado através da continuação do passeio na transição para o pátio interior.

A beleza das variações subtis.

Combate à monotonia e compacidade da forma. A árvore como inspiração. Simetria de proporções, não simetria axial ou repetição. A beleza das variações subtis, elementos de surpresa, sempre suportado numa base racional e clara. Exercícios de equilíbrio de cores em gradações suaves, trabalho de texturas e brilhos, transparência e opacidade. 

Uma regra que suporta um esquema de cores que deriva da coloração que cada compartimento adquire. A transição de uma base mais maciça para as extremidades das torres cada vez mais delicadas. Uma fragmentação do volume e recorte dos limites, tornando o edifício menos compacto e com perspetivas mais interessantes.

Do contentor ao “organismo”.

O exercício de transformar um contentor de programa, de uma forma regular em outra que se adapta ao limite do terreno. Da implantação natural (alinhada / ortogonal) surge a torção, a exceção que justifica a regra. Vontade expressa do cliente junta-se com a naturalidade que o espaço pede. Um corpo que se dispõe para a melhor vista. Cria o seu espaço vital e abre-se para a melhor vista, sem impedimentos e constrangimentos.

Transformámos um paralelepípedo num lego de encaixe, permitindo rodar uma das peças de acordo com o terreno. Deste lego ao módulo transforma-se a torre num contentor de experiência e de diversidade, projetando o interior no exterior, nas cores, texturas, materiais e composição.A noção de uma ordem que permite a “desordem”. A surpresa de um certo “desequilíbrio”

Topografia artificial.

As primeiras lâminas para os pisos habitacionais surgem acima da cota do jardim suspenso da base. A sensação de estar a levitar sobre as árvores, integradas num jardim / parque, criado a partir da nova topografia que ocupa o lote.



imagens de cabeçalho.
Imagens virtuais , esquemas e maquetes e referências para os dois projetos do atelier carvalho araújo.

Da esquerda para a direita: modelo virtual parcial da torre 1; Pure Painting, 1920 (oil on canvas, 130x80.5 cm) de Theo von Doesburg; imagem do Hotel Waldorf Astoria, em Nova Iorque, construído onde era a residência dos Astor; modelos de testa para o edifício 2; esquema de conceito; imagem virtual da cobertura do edifício 2; Highrise of Homes (1981) - desenho a carvão de James Wines; modelo de teste de fachada do edifício 2 inspirado no biombo “Block” screen, circa 1925 de Eileen Gray.

© joel moniz 2013



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